CARDOSO MALDONADO | BRASÍLIA
Donald Trump, desmatamento da Amazônia, Celso Russomano e Marcelo Crivella encabeçam a lista mais recente de batalhas perdidas e que deixaram estragos nas forças bolsonaristas. Nenhuma dessas pelejas, no entanto, gerou mais perdas do que a disputa em torno da Covid-19 e da vacinação e campanha contra o coronavírus. Quando não perdeu soldados pela ideologia anti-ciência, perdeu seguidores para a doença.
Eleitores bolsonaristas têm sido abatidos pelo coronavírus e qualquer opositor que comemore esse fato precisa ser rechaçado duramente. São famílias inteiras que foram levadas à tragédia e, independentemente de ideologia, merecem todo suporte e apoio para se reerguer e vencer o luto.
Dados levantados por diferentes jornais mostram que as cidades pró-Bolsonaro têm as maiores taxas de contágio e, com isso em mãos, a conta fica simples: se o presidente disse que a doença é só uma gripezinha e meu parente morreu ou sobreviveu com sérias dificuldades, ou o presidente mentiu ou gere muito mal o sistema de saúde. Acrescente um presidente que não quer vacinar a população e temos uma rebelião entre os soldados sobreviventes.
Até agora são quase 200 mil mortos, cada um deles com dezenas de familiares e amigos que estão de luto. Gente que já estava sem emprego e que questionava, mesmo antes da pandemia, o trabalho do ministro da Economia e do governo, gente que não tem dinheiro para uma UTI de luxo e para enterrar seus parentes. Esse monte de gente não é um grupo homogêneo, claro. Mas, juntos, somam alguns milhões de revoltados à procura de um líder para o seu motim e o governador de São Paulo, João Dória, tem trabalhado para aproveitar esse movimento.
Dória, como pré-candidato ao Palácio do Planalto em 2022, acha que o Brasil pode repetir o que ocorreu nas eleições norte-americanas. Lá, o candidato anti-vacina e anti-ciência perdeu. Aqui, desde o começo da pandemia, Bolsonaro e Dória se posicionaram como antagonistas: o presidente no grupo negacionista e contra a vacina; o governador no pró-saúde pública. Como morto não vota, João Dória parece ter uma vantagem na pré-corrida eleitoral.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.